Disfunção Endotelial no Cancro do Ovário: Novo estudo liga marcadores ao risco de trombose e ao prognóstico tumoral

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Disfunção Endotelial no Cancro do Ovário: Novo estudo liga marcadores ao risco de trombose e ao prognóstico tumoral

Monday, 17.02.2025

O mau prognóstico do cancro do ovário, caracterizado pelo diagnóstico tardio, elevada taxa de resistência aos tratamentos e mortalidade significativa, destaca a necessidade urgente de melhores estratégias prognósticas e terapêuticas. Nos doentes oncológicos, o tromboembolismo venoso (TEV) representa a segunda principal causa de morte, tendo um impacto ainda mais acentuado no cancro do ovário, não só pela própria biologia do tumor, mas também pela extensão da cirurgia e tipo de tratamento. Uma das bases de TEV é a disfunção endotelial, um estado pró-inflamatório e de desregulação do endotélio que, independentemente da trombose, pode também favorecer a progressão tumoral.

 

Um estudo recente do Grupo de Oncologia Molecular e Patologia Viral (GOMPV) do Centro de Investigação do IPO-Porto (CI-IPOP), em colaboração com o departamento de Medicina Oncológica, explorou a relação entre marcadores de disfunção endotelial, o risco de TEV e o prognóstico de cancro do ovário. Os investigadores analisaram a influência de genes das moléculas intervenientes na disfunção endotelial e ainda de polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs) nesses mesmos genes no desenvolvimento de TEV e na evolução do cancro, independentemente da trombogénese.

 

Os resultados revelaram que a sobre-expressão do gene NOS3(nitric oxide synthase 3), responsável pela síntese do óxido nítrico essencial à saúde do endotélio, está associada a uma menor incidência de TEV, sugerindo um possível papel protetor deste gene contra complicações trombóticas. Em contrapartida, a sobre-expressão do gene SELP, codificante da P-seletina, foi correlacionada com uma menor sobrevivência global indicando que este pode ser um fator de mau prognóstico no cancro do ovário. Mais ainda, ao excluir doentes que tiveram TEV antes do diagnóstico oncológico, verificou-se que os portadores do alelo T do SNP SELP rs6136 apresentaram menor sobrevivência livre de progressão. Estes achados sugerem que os marcadores de disfunção endotelial podem ter papéis distintos no contexto clínico, influenciando tanto o risco de trombogénese tumoral como a progressão do cancro.

 

Esta investigação reforça a importância da monitorização vascular em doentes com cancro do ovário e abre portas para novas abordagens terapêuticas que possam reduzir o risco de complicações trombóticas e melhorar o prognóstico da doença.

 

Autores e Afiliações:

Inês Guerra de Melo 1,2, Valéria Tavares 1,2,3, Joana Savva-Bordalo 4, Mariana Rei 5, Joana Liz-Pimenta 2,6, Deolinda Pereira 4 and Rui Medeiros 1,2,3,7,8

1 Molecular Oncology and Viral Pathology Group, Research Center of IPO Porto (CI-IPOP)/Pathology and Laboratory Medicine Dep., Clinical Pathology SV/RISE@CI-IPOP (Health Research Network), Portuguese Oncology Institute of Porto (IPO Porto)/Porto Comprehensive Cancer Centre (Porto. CCC), 4200-072 Porto, Portugal;

2 Faculty of Medicine, University of Porto (FMUP), 4200-072 Porto, Portugal;

3 ICBAS—Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universidade do Porto, 4050-313 Porto, Portugal;

4 Department of Medical Oncology, Portuguese Institute of Oncology of Porto (IPO Porto), 4200-072 Porto, Portugal;

5 Department of Gynaecology, Portuguese Institute of Oncology of Porto (IPO Porto),
4200-072 Porto, Portugal;

6 Department of Medical Oncology, Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD), 5000-508 Vila Real, Portugal;

7 Faculty of Health Sciences, Fernando Pessoa University, 4200-150 Porto, Portugal;

8 Research Department, Portuguese League Against Cancer (NRNorte), 4200-172 Porto, Portugal.

 

Abstract:

Ovarian cancer (OC) presents daunting lethality rates worldwide, with frequent late-stage diagnosis and chemoresistance, highlighting the need for improved prognostic approaches. Venous thromboembolism (VTE), a major cancer mortality factor, is partially driven by endothelial dysfunction (ED). ED’s pro-inflammatory state fosters tumour progression, suggesting a VTE-independent link between ED and cancer. Given this triad’s interplay, ED markers may influence OC behaviour and patients’ prognosis. Thus, the impact of ED-related genes and single-nucleotide polymorphisms (SNPs) on OC-related VTE and patient thrombogenesis-independent prognosis was investigated. NOS3 upregulation was linked to lower VTE incidence (χ2,  = 0.013), while SELP upregulation was associated with shorter overall survival (log-rank test,  = 0.048). Dismissing patients with VTE before OC diagnosis, SELP rs6136 T allele carriers presented lower progression-free survival (log-rank test,  = 0.038). Nevertheless, due to the SNP minor allele underrepresentation, further investigation is required. Taken together, ED markers seem to exhibit roles that depend on the clinical context, such as tumour-related thrombogenesis or cancer prognosis. Validation with larger cohorts and more in-depth functional studies are needed for data clarification and potential therapeutic strategies exploitation to tackle cancer progression and thrombosis in OC patients.

 

Revista: Life

 

Link: https://www.mdpi.com/2075-1729/14/12/1630