ASPIC entrega «Prémio Raquel Seruca» a investigação em cancro da mama

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ASPIC entrega «Prémio Raquel Seruca» a investigação em cancro da mama

Terça, 16.08.2022
A investigadora Flávia Castro, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), foi a vencedora do «Prémio Raquel Seruca», promovido pela Associação Portuguesa de Investigação em Cancro (ASPIC). No valor de dois mil euros, o prémio distinguiu a melhor comunicação oral apresentada no 5º Congresso Internacional da Associação e foi entregue na cerimónia de encerramento, na mesma altura em que foi apresentado um vídeo de tributo a Raquel Seruca.
 

 
 
Criado com o objetivo de homenagear a médica e investigadora Raquel Seruca (1962-2022), cuja carreira contribuiu de forma inequívoca para a investigação em Oncologia a nível nacional e internacional, este prémio «constitui uma forma de apoiar o desenvolvimento científico e o valor será entregue à instituição/grupo de investigação a que pertence a investigadora, para que este possa ser aplicado no decorrer do seu trabalho científico», explica Joana Paredes, presidente da ASPIC.
 
O estudo premiado, adianta Flávia Castro, do grupo «Tumour and Microenvironment Interactions», «baseia-se na avaliação de nanopartículas de quitosano e ácido-poli-y-glutâmico como terapia combinatória para tratamento de cancro de mama. Estas nanopartículas foram recentemente descritas como terapia adjuvante para cancro de mama e publicadas na revista científica “Biomaterials", uma das mais prestigiadas revistas na área dos Biomateriais».
 
A investigadora Raquel Seruca, líder do grupo «Epithelial Interactions in Cancer» do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), professora da Faculdade de Medicina da U.Porto (FMUP) e referência mundial no estudo do cancro gástrico, faleceu no final de maio, aos 59 anos, vítima de doença oncológica.
 
Natural do Porto, cidade onde nasceu a 9 de junho de 1962, Raquel Seruca licenciou-se (1986) e doutorou-se (1995) em Medicina pela FMUP e foi bolseira de investigação no Departamento de Genética Humana da Universidade de Groningen, Holanda. De regresso a Portugal, iniciou um pós-doutoramento em genética molecular do cancro do estômago no Ipatimup – Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da U.Porto (hoje integrado no i3S) com o patologista Manuel Sobrinho Simões. Deste rapidamente “herdaria” a alcunha de “força da natureza”, devido ao seu entusiasmo, curiosidade e otimismo contagiantes.
 
Autora de mais de 260 artigos publicados nas mais prestigiadas revistas científicas, como o New England Journal of Medicine, a Lancet Oncology ou a Human Molecular Genetics, Raquel Seruca é reconhecida internacionalmente no campo da genética do cancro gástrico e considerada uma especialista mundial em invasão das células cancerígenas, nomeadamente no cancro gástrico e no cancro do cólon. Foi ainda responsável pela formação de várias gerações de investigadores e colaborou em muitos programas de doutoramento.
 
Em maio de 2009, publicou na revista Human Molecular Genetics, com outros investigadores, um estudo que sugeria uma nova terapia para controlar a propagação das células cancerígenas para outros tecidos, partindo do princípio de que essa propagação pode ser motivada pela activação aberrante de uma proteína, a EGFR (Receptor do Factor de Crescimento Epidérmico). Uma descoberta que constituiu então um novo passo para a concretização daquele que dizia ser o seu “um sonho pequenino”: perceber como alguns cancros conseguem invadir tecidos adjacentes, propagarem-se e fazer novos órgãos em órgãos que não são os próprios.
 
“Não sei se conseguirei chegar lá… ou mesmo se a minha geração conseguirá, mas estão a dar-se passos cada vez mais certeiros para perceber os mecanismos moleculares das doenças. Não só pela tecnologia que está mais avançada, mas também pela quantidade de pessoas, com competências muito diversas, que fazem investigação nesta área. Penso que é isto que vai fazer a diferença”, antecipava em 2009.
 
Para além de ter sido galardoada diversas vezes pela Sociedade Portuguesa de Genética Humana, Raquel Seruca conquistou o prémio Benjamin Castelman Award USCAP, em 2001 e em 2012, o Prémio Labmed em 2002 e 2003, e recebeu a insígnia de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, em 2009. Em 2014 a Câmara Municipal do Porto distinguiu-a com a Medalha Municipal – Grau Ouro.
 
Em 2015, a sua equipa recebeu um prémio – reforçado em 2019 e 2021 – da ‘No Stomach For Cancer’, uma associação norte-americana que apoia famílias com cancro gástrico e à qual Raquel Seruca estava ligada enquanto membro do Conselho Científico Consultivo. Mais recentemente, foi distinguida com o Prémio ACTIVA Mulheres Inspiradoras de Ciência 2021 pelo trabalho de coordenação da candidatura do i3S, no âmbito do consórcio Porto Comprehensive Cancer Centre (P.CCC), aos fundos do Norte 2020.