Associação Portuguesa de Investigação em Cancro
Alterações no DNA e no sistema imunitário de uma população exposta a resíduos de uma mina de urânio desativada
Alterações no DNA e no sistema imunitário de uma população exposta a resíduos de uma mina de urânio desativada

Os riscos dos resíduos provenientes da extração do urânio estão relacionados com o seu conteúdo em metais e radionuclídeos, o que levanta preocupações às autoridades governamentais e à população em geral. As populações humanas e outras espécies animais que vivem em zonas de exploração de urânio poderão estar expostas à radiação através de resíduos e poeiras radioativas e também através de água e alimentos contaminados. Geralmente, a determinação dos riscos deste tipo de contaminantes é feita, através da análise química de amostras ambientais, sendo dada menos importância à determinação de efeitos biológicos. A determinação de efeitos biológicos causados pela exposição a poluentes, tem-se revelado muito importante na avaliação da qualidade ambiental, fornecendo indicações dos possíveis efeitos negativos nos seres vivos, e também complementando a informação que se obtém através das análises químicas de amostras ambientais. Isto levou a que se desenvolvessem biomarcadores, que consistem em marcadores moleculares, celulares ou histológicos que sofrem alterações em resposta à exposição a toxinas ambientais, e aos efeitos por elas produzidos. Estes biomarcadores podem assim ser utilizados como ferramentas de diagnóstico ambiental. Neste trabalho foram analisadas respostas a nível molecular e celular, em humanos, a fim de determinar o risco químico e radiológico resultante da exposição a resíduos provenientes da mina de urânio da Cunha Baixa. Este trabalho teve também como objectivo a clarificação das respostas subjacentes à exposição a metais e radionuclídeos, permitindo o desenvolvimento de potenciais novos biomarcadores moleculares. Para tal, foram recolhidas amostras de sangue em voluntários saudáveis da população da aldeia da Cunha Baixa. As amostras foram analisadas para a presença de danos no DNA, contagem de células do sistema imunitário, imunofenotipagem e quantificação de metais no sangue. Os resultados mostraram uma diminuição significativa dos níveis de zinco e aumento significativo dos níveis de urânio e manganês, danos no DNA e diminuição de populações importantes de células imunitárias (nomeadamente linfócitos T e NK). Estes efeitos, poderão resultar da exposição aos resíduos da mina, tornando as pessoas mais suscetíveis ao desenvolvimento de processos de carcinogénese.
O presente estudo contribuiu significativamente para a caracterização dos riscos da exposição a resíduos provenientes de minas de urânio abandonadas, evidenciando os seus efeitos negativos a nível molecular e celular, que potencialmente poderão causar instabilidade genómica e aumentar o risco de desenvolvimento de doenças genéticas. Os resultados obtidos veem assim confirmar a premência das ações de remediação que tem sido levadas a cabo em áreas mineiras, com as mesmas características, existentes em território nacional. Os mesmos biomarcadores poderão ser úteis para monitorizar a mitigação dos riscos, após a finalização das obras em curso.
Autores e afiliações:
J. Lourenço a,b, R. Pereira c,b, F. Pinto d, T. Caetano a,b, A. Silva e, T. Carvalheiro e, A. Guimarães a, F. Gonçalves a,b, A. Paiva e, S. Mendo a,b
a Departamento de Biologia, Universidade de Aveiro, Campus Universitário de Santiago, 3810-193 Aveiro, Portugal
b CESAM – Centro de Estudos do Ambiente e do Mar, Universidade de Aveiro, Campus Universitário de Santiago, 3810-193 Aveiro, Portugal
c Departamento de Biologia, Faculdade de Ciências, Universidade do Porto, Rua do Campo Alegre, 4169–007 Porto, Portugal
d Centro de Saúde de Mangualde, Estrada da Estação, 3530-125 Mangualde, Viseu, Portugal
e Blood and Transplantation Center of Coimbra, Portuguese Institute of Blood and Transplantation, Praceta Prof. Mota Pinto, Edifício S. Jerónimo – 4, Apartado 9041, 3001-301 Coimbra, Portugal
Resumo:
Biomonitoring a human population inhabiting nearby a deactivated uranium mine
Environmental exposure to uranium and its daughter radionuclides, has been linked to several negative effects such as those related with important physiological processes, like hematopoiesis, and may also be associated with genotoxicity effects. Herein, genotoxic effects, immunotoxicity, trace elements and C reactive protein (CRP) analyses, were performed in peripheral blood samples collected from individ-uals of a population living near a deactivated uranium mine. C reactive protein analysis was performed to exclude candidates with active inflammatory processes from further evaluations. DNA damage and immunotoxicity (immunophenotyping and immune cell counts) were evaluated by comet assay and flow cytometry, respectively. Significant DNA damage was observed in the peripheral blood samples from volunteers living in the Cunha Baixa village. A significant decrease of NK and T lymphocytes counts were observed in the individuals from the Cunha Baixa village, when compared with individuals from the reference site. Uranium and manganese levels were significantly higher in the Cunha Baixa village inhabitants. On the other hand, zinc levels were significantly lower in those individuals when compared with the volunteers from the control village. Results suggest that inhabitants from Cunha Baixa have a higher risk of suffering from serious diseases such as cancer, since high DNA damages were observed in peripheral blood leukocytes and also decreased levels of NK and T cells, which play an essential role in the defense against tumor growth.
Link: http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0300483X13000164
Nome da revista: Toxicology